Por Renata Barcelos
Como o custo do capital no Brasil pode estar matando o futuro da sua empresa
Minha relação com o tema da inovação nunca foi muito tranquila. Como engenheira, nunca havia sido formalmente apresentada a ele até que, em 2004, durante meu mestrado, participei de uma primeira disciplina na Administração. Mas foi no doutorado em 2018 que, somando disciplinas de teoria da firma a outras cursadas no curso de Economia, consegui compreender em profundidade, não só a relevância, mas também, como o tema exigia mais do que a gestão que eu já dominava.
Durante anos, assisti o crescimento de uma série de abordagens mais ‘empresariais’ por meio de consultorias diversas: vi o frisson dos funis de ideias, o design thinking, a discussão da cultura organizacional… todas com grande valor. Mas uma lógica recorrente de alguns especialistas me incomodava: algo parecido com “inovação não depende de dinheiro” ou suas variações. Ouvia isso como se presenciasse um líder de torcida balançando seus pompons, animando todos, mas sem precisar entrar no jogo.
É obvio que capital sem criatividade não traz ganhos extraordinários. Entretanto, as grandes inovações, altamente criativas, arriscadas, complexas e de alto crescimento exigem capital. Aliás, como aprendi com o professor Haroldo Vale Mota, a armadilha do crescimento pode levar uma empresa ao fracasso quando ela não consegue sustentar a variação da necessidade de capital de giro. E isso vale, inclusive, quando os riscos são mais baixos, quando se cresce apenas em escala. Portanto, avaliar como a inovação impacta o fluxo de caixa é fundamental para qualquer empresa responsável.
Trabalhar a ambidestria em empresas tradicionais me traz essa realidade todos os dias. Na maior parte das vezes, não é a falta de ideias inovadoras que bloqueia a construção do futuro, mas sim, a falta de recursos financeiros que permitiria um alívio de caixa para investimentos e tomada de risco mais ‘segura’. Não conheço média empresa sem restrições orçamentárias. Não há dinheiro sobrando. O que existe é a concorrência natural pelos recursos e enorme dificuldade de priorização das iniciativas possíveis.
Já nas minhas atuações como advisor junto a startups e fundos de investimento, essa realidade vai para outros patamares: ver uma empresa nascente em risco de morte por falta de capital chega a doer. “Fôlego” é a palavra que usamos. Em 2024, ouvi de um empreendedor excepcional com uma ideia altamente relevante e inovadora para o setor de saúde no Brasil que sua startup só tinha fôlego para mais 3 meses de vida. A diferença é que as startups buscam financiamento de formas mais direcionadas e, geralmente, baseadas em equity. E elas assumem que essa competência é altamente estratégica para elas.
O incômodo e o aprendizado com tudo isso foi ficando cada vez maior, pois percebia que as empresas onde eu atuava não conseguiam acesso a capital de menor custo. A falta, no Brasil, de um mercado de capitais tão pujante quanto o americano não permite que as empresas tradicionais captem por meio da abertura de capital com facilidade. Dívida estruturada não faz parte do vocabulário da maior parte das empresas de médio porte. Restaria a elas, portanto, a busca de linhas de financiamento e incentivos para a inovação como FINEP e lei do Bem.
O problema é que a maioria das empresas de médio porte que conheço considera essa hipótese difícil, obscura ou burocrática demais para ser tentada. Recentemente, um empresário, mais visionário, apresentou um projeto para o FINEP. Pleiteou R$ 10 milhões. Captou zero. Mais uma inovação engavetada que poderia trazer impacto nacional.
E foi aí que fui buscar especialistas que sabem realmente o que fazem. E quando você conversa com eles e entra em conversas sobre 20, 60, 80 milhões de Reais captados para um cliente via FINEP, você entende o quanto a inovação com grana de verdade é diferente. O quanto ela faz diferença para as empresas e para o Brasil.
O motivo desse artigo é, justamente, mostrar para as empresas de médio porte que isso é possível e que ficar dependendo apenas de capital próprio pode ser o caminho para a estagnação das melhores ideias que construirão seus futuros. Mas essa capacidade tem que ser desenvolvida estrategicamente, afinal, para algumas empresas, um ‘empurrão’ de alguns milhões de Reais é justamente o que falta para um projeto promissor levá-las a outro patamar.
Existem possibilidades captação de dinheiro mais barato para empresas de diversos setores e portes e, algumas, listo a seguir:
- Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES): principal instrumento do país para o financiamento de longo prazo de investimentos em todos os segmentos da economia e oferece condições especiais para micro, pequenas e médias empresas. Possui linhas de investimento focadas em inovação.
- Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP): principal elo na rede de inovação do Brasil, promove o desenvolvimento por meio do fomento público à ciência, tecnologia e inovação em empresas, universidades, institutos de tecnologia e outras instituições públicas ou privadas. Oferece tanto incentivos quanto crédito com taxas atrativas. Atua em conjunto com bancos de desenvolvimento regionais e fundações estaduais de pesquisa e possui diversos fundos setoriais específicos como saúde, TI e infraestrutura (ver instituições como FAPEMIG, Banco do Nordeste, BDMG, etc).
- Lei de Inovação (Lei nº 10.973/2004): promove a integração entre o conhecimento científico, o setor produtivo e o desenvolvimento econômico. Fomenta mecanismos que incentivam a colaboração estratégica entre universidades, institutos de pesquisa e empresas promovendo ambientes colaborativos, como os parques tecnológicos e incubadoras, pilares da economia do conhecimento.
- Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005): estimula as atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) nas empresas brasileiras por meio de incentivos fiscais para estimular investimentos privados em P&D tecnológico em todos os setores e regiões. Aplica-se a pessoas jurídicas com regularidade fiscal que operam no regime de Lucro Real.
- Lei da Informática/ Lei de TICs (1991): cria incentivos fiscais e crédito para empresas que produzem tecnologia (hardware e software).
É claro que pleitear alguns dos benefícios vistos acima não é simples e exige algumas contrapartidas importantes. Entretanto, conhecer o valor estratégico dessa oportunidade pode fazer com que a sua empresa invista no desenvolvimento dessa capacidade estratégica, ou, simplesmente, terceirize para especialistas.
Em resumo: ter ideias não depende de dinheiro. Ainda bem. Os especialistas que desmereceram as fontes de financiamento na temática da inovação sempre foram focados na geração de ideias (adoram construir funis). Hoje, temos consciência de que ideias sem execução não servem para quase nada. Então, já é hora de tratar as fontes de financiamento da inovação muito além de uma função burocrática e incerta da área de finanças. É uma capacidade estratégica!
by Renata Barcelos
Board Member | Startup Advisor | Speaker | Associate Professor | Consultant | Ambidexterity on strategy, culture, organizational structure and people | PhD in Management
Se você concorda que boas ideias não bastam sem capital, estrutura e estratégia para tirá-las do papel, então está claro: o próximo passo é fortalecer sua capacidade de execução com quem entende os desafios da média empresa brasileira.
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