Estou cá num voo retornando de NY e pensei em resgatar um assunto já abordado (não por mim), mas que considero atual: tendência x modismo. Confesso, inclusive, que muito provocado pelo que observei, nos últimos 10 dias, na maior metrópole mundial.
Vou aproveitar e me permitir contar um pouco, dentro dessa temática, sobre alguns cases que vivenciei para ilustrar.
Paleta mexicana, barbearia, cafeteria, food truck, stand up padle (SUP), bastão de selfie (monopod), coworking, Pokemon go, hamburgueria e cervejaria artesanais, brigaderia, cupcake…moda ou tendência?
Primeiramente, julgo importante tentar esclarecer os conceitos (fiz uma breve pesquisa aproveitando a internet do avião):
Modismo, via de regra, tem curta duração e tende a ser superficial, não tendo relevância política, econômica ou social. Trata-se de um interesse temporário dos consumidores e tende, gradativamente, a “encalhar na prateleira”. Podemos dizer ser o “hit do verão”. Podem ser possibilidades de “lucro efêmero”. O “empreendedorismo de palco”, ou a “ceita do empreendedorismo”, tem contribuído muito, na minha visão, para que pessoas, sem vocação e/ou preparo, caiam na armadilha dos modismos.
Já tendência é um direcionamento ou uma sequência de eventos com certa força e durabilidade. Mais previsíveis e duradouras, as tendências revelam como será o futuro e oferecem muitas oportunidades. São pensamentos, atitudes e ideias, não produtos ou serviços. Uma tendência é uma guinada profunda. Novidade não é tendência. Exemplo: a oferta de alimentos orgânicos não é uma tendência propriamente, e sim o reflexo de uma tendência comportamental que dá valor à alimentação saudável e natural.
Podemos dizer que food truck é uma tendência? No meu entendimento, mobilidade, escassez de tempo e dinheiro são uma tendência. Food truck embarca nisso, com uma pitada de estilo. Barbearia é uma tendência? Penso que não. Mas, a vaidade masculina sim.
Na minha trajetória como empreendedor procurei sempre fazer leitura de tendências (mesmo que, no início, intuitivamente). Todavia, confesso ter “surfado” em alguns modismos. (não vejo problemas nisso, basta ser consciente). Quando fundei a Outitude, embarcamos na moda daquele momento dos treinamentos outdoor. Mas eu fui sentindo na pele que a empresa não poderia apostar todas as fichas em algo efêmero e pontual. E assim fomos migrando para outras vertentes e soluções até virarmos uma boutique full service de gestão, educação e governança (vale ressaltar que demoramos 14 anos para isso. Não há atalhos).
Já o me que motivou na fundação da Prooffice (precursora da onda dos escritórios compartilhados no norte do país), foi uma tendência e não um modismo. Hoje temos o modismo dos coworkings. As tendências que envolvem este negócio são: economia compartilhada, cultura de “core business”, mobilidade e flexibilidade.
Penso que temos o caso da leitura e inserção correta da tendência, mas erro de planejamento, estruturação e execução. Ilustro com o exemplo de meu primeiro start up em 2003: uma operadora de ecoturismo de viagens experienciais. Fizemos a perfeita leitura da tendência: viagens experienciais e customizadas. Contudo, a estrutura, capital humano, tecnologia e fluxo de caixa não eram adequados. Conclusão: boa inserção e correta leitura da tendência, mas inadequada estruturação e execução.
Agora voltando a falar de modismos: um caso de sucesso que acabei “pegando carona” foi o de cursos para barbeiros em minha escola profissionalizante. Trata-se atualmente do segundo curso mais demandado, mas, infelizmente, eu imagino que esta febre das barbearias vá passar. O negócio não está pautado nisso. Admito estar “surfando na onda”.
Antes de finalizar (tenho certeza que minha assessora vai mandar eu cortar algumas linhas), gostaria de deixar algumas provocações (“check-up de tendência”) para você:
1. Qual o meu negócio? (muitos ainda não definiram. E se o fizeram, ainda não sabem a diferença de negócio míope e ampliado).
2. Qual o meu negócio ampliado? (Ex. O da Natura é o “bem estar” e não “cosméticos”)
3. Quais são as principais tendências globais? (vou facilitar e ilustrar com algumas no rodapé*)
4. Quais as tendências do meu setor?
5. O que tenho feito para estar inserido nessas tendências mundiais e do setor? Tenho uma agenda para isso?
6. Como estas tendências podem impactar positiva e negativamente meu negócio? O que está ao meu alcance fazer?
7. Existe algum modismo com sinergia ao meu negócio? Posso aproveita-lo sem perder o foco, posicionamento ou imagem?
Minha conclusão é que devemos ter um negócio lastreado, sensibilizado ou inserido em tendências e ainda assim nos permitir navegar por modismos, visando à geração de caixa de curto prazo. Importante que o modismo não seja o “core” do seu negócio. Enfim, o mundo está caótico. Sinto informar.
* Algumas tendências globais que destaco:
– Conectividade e velocidade
– Saúde e bem estar
– Consumo sustentável
– Customização
– Relevância da Experiência